Região

Arte sacra proporciona viagem no tempo a visitantes de museu de Santos

Separe, no mínimo, uma hora para fazer uma viagem no tempo. Assim é a visita ao Museu de Arte Sacra de Santos, que fica no complexo arquitetônico beneditino, formado pela Igreja Nossa Senhora do Desterro e o antigo Mosteiro São Bento. Em sua coleção, há cerca de 600 obras de arte sacra, religiosa e muita história ao redor delas. Entre as peças, estão esculturas, pinturas, objetos litúrgicos e indumentárias. 

A capela é a primeira parada. Ela foi erguida em 1640 na área que pertencia à família de Bartolomeu Fernandes Mourão, primeiro ferreiro que veio para o Brasil com a esquadra de Martim Afonso. A visita fica sob o comando da arquiteta Paula Guerra, que é monitora no local. 

“Toda a arquitetura da capela segue o estilo do final do Barroco e início do Rococó. No altar, há um detalhamento em rosas, por exemplo, que indica a fé mariana. Então, como a capela é de Nossa Senhora do Desterro tem que ter esses florais”, explica.

Mourão doou todo o terreno aos beneditinos com a condição de que ele e seus parentes fossem enterrados no local. Os monges, então, ergueram o mosteiro ao lado da igreja. No templo, há lápides sinalizando que os religiosos estão sepultados no espaço. Não há indicações precisas de onde os familiares de Mourão foram enterrados.

Depois é hora de entrar no Mosteiro. Em cada sala, há uma nova descoberta. A imagem mais antiga de Nossa Senhora da Conceição existente no País pode ser vista onde antigamente funcionava o refeitório dos monges. Ela é feita em barro, tem cerca de um metro, data de 1560 e a autoria é atribuída ao escultor João Gonçalo Fernandes. “Ela é patrimônio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). É importante para a história da região e também para o Brasil inteiro, porque aqui é a primeira vila do País”, conta Paula.

Na sala, há ainda a imagem de Santa Catarina de Alexandria. “Ela tem uma história fantástica. Pertenceu à primeira capela da região, que foi saqueada pelos piratas. A imagem foi lançada ao mar e ficou 76 anos desaparecida até ser encontrada intacta por escravos. O que foi considerado um milagre, já que a obra é de madeira”, explica a monitora.

No espaço há ainda outras obras ilustres, como a Santa Ceia retratada por Benedicto Calixto. Inspirado pela obra de Da Vinci, ele expõe em detalhes sua leitura da cena. “Todos os apóstolos estão representados e têm uma divisão na barba, que é considerado um traço judeu. Temos o Santo Graal, que não aparece em nenhuma outra Santa Ceia. Na barra da toalha, tem o nome de todos os apóstolos. Há ainda três janelas ao fundo representando a Santíssima Trindade e a paisagem seria a Serra do Mar”. 

Os visitantes se deparam com obras do Realismo na Sala da Paixão. Nela, são vistas esculturas que representam os últimos momentos de Jesus antes da crucificação. São três imagens em madeira: o Cristo Morto, Nossa Senhora das Dores e o Bom Jesus. 

“O Realismo chega no século 20. Veio para chocar. Para fazer a gente se sentir mais perto do que seriam as imagens de Nossa Senhora e de Jesus, porque a gente tendo a percepção de que eles eram pessoas reais, nos faz ter mais compaixão. E, de certa forma, nos faz ter mais fé”.

 A Cabeça de Cristo é mais uma obra de Calixto no Museu e integra a Sala da Paixão. É um quadro rico em detalhes. Segundo a monitora, refere-se à passagem em que Verônica seca o rosto de Cristo. “Há uma corda no pescoço que remeteria também a Tiradentes. Nas obras de Calixto, ele também retrata Jesus com a divisão na barba, que é traço judeu. E, esse quadro especificamente, seria um autorretrato de Calixto, de acordo com estudos”.  

É possível acompanhar alguns detalhes da vida dos monges dando uma espiada em quartos onde passavam boa parte do tempo. Eles estão preservados de acordo com a época. Há cama de madeira e estrado feito com corda e um genuflexório usado para autoflagelação, instalado em frente a um crucifixo. Eles tinham um único baú para guardar os pertences e uma cadeira. Os cômodos eram chamados de cela, porque eles ficavam trancados quando não estavam executando nenhuma atividade. “As janelas são grandes porque serviam para estudar, aproveitando a iluminação, e também para orar diante do céu”.

Até o mês de junho, duas exposições podem ser vistas no Museu de Arte Sacra. Uma delas é do artista Alberto Messias, que trouxe 15 telas retratando um pouco da arte neobizantina. “São os famosos ícones ortodoxos, porque eles não cultuam arte religiosa. É a arte sacra, que tem regras a serem cumpridas. Todos os rostos são iguais, porque todos são a face de Cristo, por exemplo”. 

A outra exposição é do artista Felipe Callipo, que apresenta 26 esculturas, com criações voltadas à arte sacra. Grande parte de suas criações é dedicada a imagens dos séculos 17 e 18. É um resgate da obra barroca. “Ele faz todas as obras da mesma forma como eram feitas na época”. 

Por volta de 1873, o Mosteiro também serviu de enfermaria durante uma epidemia de febre amarela que atingiu o Município, acomodando pacientes da Santa Casa. “Alguns doentes que morriam acabavam sendo enterrados aqui também. Não necessariamente dentro da capela, mas em todo o lugar que a capela toca, porque é considerado solo sagrado”, conta Paula.

Entre 1958 e 1968, funcionou no Mosteiro o Instituto São Vladimir, que abrigou meninos refugiados russos-chineses, vindos principalmente da região da Manchúria, na China. “Eles vieram com suas famílias, mas os parentes tinham que trabalhar. Então, foi criado esse internato por padres Jesuítas, que foram autorizados e treinados a rezar a missa ortodoxa”, relata a monitora.
Fundador do equipamento em 11 de julho de 1981, o acervo de Dom Davi Picão também está exposto no Museu. 

O Museu de Arte Sacra de Santos fica na Rua Santa Joana D’Arc, 795, Morro São Bento, e funciona de quinta-feira a sábado, das 10h às 16h30 e, aos domingos, das 13h às 16h30. Não é necessário agendamento, com exceção de grupos acima de 30 pessoas que devem marcar a visita pelo telefone (13) 3219-1111. A entrada custa R$ 10,00 e meia-entrada, R$ 5,00. 

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