Criada e lapidada em São Vicente, a lateral direita Katiuscia Fernandes, de 27 anos, é um exemplo para mulheres vicentinas que sonham em superar as desigualdades impostas pela sociedade.
A exemplo da imensa maioria dos jogadores de futebol, a lateral direita também enfrentou diversas dificuldades no caminho. Mas, como uma grande craque, ‘driblou’ todas elas. Ela conta que precisou lidar com um dos maiores problemas encontrados por uma mulher no futebol: o machismo. “Infelizmente, devido ao preconceito estrutural na sociedade que desvaloriza a mulher, eu, consequentemente, sofri com discursos machistas em minha trajetória”, comenta.
Ciente da influência que possui, Katiuscia faz questão de levantar bandeiras na luta contra a desigualdade. Para este dia 8 de março, ela deixa um recado à sociedade. “Que este Dia Internacional da Mulher não represente só mais uma data, e sim um momento de reflexão para aqueles que alimentam discursos e atos machistas”.
Embora o cenário indique evolução, é fato que no futebol, esporte mais popular do Planeta, discursos machistas ainda são alimentados. Com muita determinação para vencer, a jogadora derrubou o preconceito, e hoje brilha como titular de um dos maiores clubes do País e principal potência do futebol feminino sul-americano: o Corinthians.
Com um currículo invejável, a lateral coleciona duas Libertadores, três Brasileiros, três Paulistas e uma Supercopa do Brasil pelo Timão. Mas não para por aí. A atleta também foi campeã brasileira por outro gigante, em 2017: o Santos FC.
Antes de chegar ao topo, Katiuscia teve de lutar muito. Nascida em Santos, ela morou em São Vicente até os 21 anos, e possui imensa gratidão e carinho pelo Município. Motivos que a incentivam comemorar seus títulos com a bandeira da Cidade. “Exponho a bandeira de São Vicente para manifestar, sempre que possível, minha gratidão à Cidade onde iniciei minha carreira”, comenta.
Foi na Primeira Cidade do Brasil que a jogadora começou a dar os primeiros chutes, e perceber o amor pelo esporte. “Sempre fui apaixonada por futebol. Quando era criança, brincava nas ruas, jogava os campeonatos escolares, mas nunca imaginei que me tornaria uma jogadora profissional. Porém, em meu primeiro treino pelo São Vicente Atlético Clube, tive a certeza de que aquele era o meu sonho”, completa.
Sua carreira possui raízes calungas, tendo iniciado a trajetória no clube vicentino. Antes de brilhar como titular de dois dos maiores clubes do Brasil, Katiuscia marcou passagens pelo XV de Piracicaba, Botucatu e São José do Rio Preto.
A lateral enxerga uma luz no fim do túnel, e acredita que, cada vez mais, a modalidade feminina ganha espaço na mídia. “Recentemente, disputamos a decisão da Supercopa do Brasil, com transmissão nacional da Rede Globo. Aos poucos, vamos conquistando nosso devido espaço e repercussão.”
Katiusica lembra que, além do futebol feminino crescer exponencialmente nos últimos anos, a mulher vai superando as desigualdades em outros segmentos do esporte. “Hoje, a presença feminina em bancadas futebolísticas é visivelmente maior. Temos repórteres narradoras e comentaristas. Isso é muito positivo”, comemora.
Próximos passos – Campeã de tudo com o Corinthians, a lateral se mantém focada em busca de um novo sonho: entrar no radar da treinadora da Seleção Brasileira, a sueca Pia Sundhage. “Representar o País é o meu maior sonho. Trabalho todos os dias para ter essa oportunidade e agarrá-la da melhor forma”.
Como exemplo de pessoa que superou o desrespeito à mulher, a atleta deixa um recado às meninas que sonham jogar futebol profissionalmente: “Não desistam nunca! A caminhada é árdua, mas, no final, tudo vale a pena. Não há nada melhor do que fazer aquilo que ama”.
Título de cidadã vicentina – Em outubro de 2021, a lateral direita conquistou mais um ‘título’ para o seu currículo: o de cidadã vicentina. O projeto partiu da então vereadora Geovana Albuquerque que, após 12 anos sem a presença do público feminino à frente do cargo legislativo, representou as mulheres na Câmara Municipal.
“Sou corinthiana. Acompanhei as conquistas das meninas de perto e vibrei como se fosse eu ali. Sabemos que, no futebol, a desigualdade entre homens e mulheres ainda permanece. Esta situação se assemelha bastante à política, pois são dois meios predominantemente masculinos, nos quais a mulher luta bastante para conquistar reconhecimento”, explica Geovana.
Para ela, Katiuscia funciona como uma inspiração para outras meninas vicentinas que sonham em ‘voar’ no mundo afora. “Pensar em homenageá-la foi automático. Afinal, ela possui uma representatividade imensa e serve como espelho para diversas outras mulheres que moram em nossa Cidade e querem conquistar seu devido espaço.”